Para falar do caso do ‘Montillo’ existe uma frase muito boa que eu
ouvi certa vez que resume muitas situações da vida: ‘a expectativa é a mãe de
todas as decepções’.
No meio de 2010, o argentino chegou ao Cruzeiro como plano “B”
depois da falha em se contratar o Riquelme. Antes disso, ele havia se destacado
e acabado com o Flamengo em 2 jogos pela Libertadores, chamando a atenção de
alguns clubes brasileiros.
Quando o Montillo chegou, minha expectativa era por um bom jogador e
não por um craque. Mas logo no jogo de estreia ele mostrou que era mesmo acima
da média e, com a camisa do Cruzeiro foi vice campeão brasileiro e teve uma
libertadores de 2011 muito boa.
Foi graças ao Cruzeiro que o Montillo chegou ao reconhecimento que
ele tem hoje. E, em meio a um time que – tirante o Fábio – quase jogador nenhum
tem identidade com a camisa, logo ocupou
o lugar de ‘próximo ídolo’ da nossa torcida.
Para muitos era impossível não pensar assim, afinal de contas ele
era argentino como um dos maiores ídolos do Cruzeiro, o Sorín. E dentro de
campo, jogava com raça e determinação, chegando a entrar em campo com o seu
filho doente Santinho na UTI, passando por cirurgia do coração.
Mas a ‘poesia’ da história acaba por aqui.
Depois da Libertadores de 2011, o futebol do argentino caiu e o
Cruzeiro quase, para a séria B. Mesmo assim, teve início a incrível novela da
venda do Montillo.
No início de 2012 o Corinthians foi antiético e ofereceu para o
jogador um salário de mais de 500 mil mensais. Mas não estava disposto a pagar
o que o Cruzeiro queria pelo jogador. Gilvan, nosso presidente, bateu o pé e
segurou o argentino, dando a ele um bom aumento de salário, mas ainda longe da
gana do jogador.
Agora, em 2012, o cliclo recomeçou e Gilvan já havia havia recusado
propostas do Fluminense, do São Paulo, do Grêmio, além daquelas que havia
recusado um ano antes. Dentre elas uma de 10 milhões de euros mais 3 jogadores,
oferecidas pelo SPFC em 2011. Mas o Santos conseguiu levar o jogador por menos
que isso, envolvendo o Henrique na troca, frustrando o novo treinador celeste e
a nação azul que esperavam contar com o craque para 2013.
Vender um jogador é ruim, mas nunca foi o fim do mundo. Perdemos o
Alex, o Fred, o Sorin e inúmeros outros craques e continuamos nossa história. O
que me aborrece muito é a forma com que as coisas acontecem no futebol.
Já na tentativa do Corinthians, o Montillo declarou abertamente que
queria sair por um salário maior. Direito do jogador querer receber mais pelo
seu trabalho. Detalhe que ele veio da LaU do Chile e no Cruzeiro já estava
ganhando 5 vezes mais do que lá. Mas eu me pergunto: Quem vê o lado do
Cruzeiro?
O Montillo foi uma aposta que deu certo, assim como o Farias, por
exemplo, e outros tantos foram apostas que deram errado. Só que por ‘força de
contrato’ o Cruzeiro é OBRIGADO a ficar com o Farias. Mas quando o contrato é
para defender o clube, aí ele não vale de nada. Estes jogadores mimados, que só
chegaram onde chegaram graças a tradição e camisa que vestiram, agem como
verdadeiros mercenários e forçam suas saídas.
E tem comentarista esportivo que defende tal postura pois o jogador
não pode ser ‘escravo’ da vontade do clube. Queria eu ser escravo assim,
recebendo RIOS de dinheiro por alguma coisa que eu assinei, concordei e
melhorou a minha vida.
Aí vem a frase do início da matéria: A expectativa realmente é a mãe
de todas as decepções. E eu que esperava pela mão forte do nosso presidente,
assisti ao mandatário abrir mão do atleta que forçou a sua saída do elenco. Mais
uma vez.
Eu só acho engraçado que isso só acontece no Brasil. ‘Nas arábias’
ou na Itália, por exemplo, os jogadores não conseguem se desvencilhar
facilmente de seus clubes. São obrigados a cumprir os seus contratos mesmo a
contragosto. Pois, no fim das contas, TUDO é um negócio. Vejam o Thiago
Ribeiro, por exemplo, que queria voltar a todo custo mas não conseguiu.
Mas aqui no Brasil a festa come solta. E nós, Cruzeirenses, fomos
obrigados a assistir a reedição de um caso parecidíssimo com a saída do Kléber
do Cruzeiro. Fomos, mais uma vez, vencidos pelos beicinhos dos jogadores.
Só que – por incrível que pareça – o Kléber ainda foi transparente,
enquanto o Montillo se travestiu em seu empresário safado e forçou sua saída,
trocou mensagens com o Neymar e, mesmo antes do anúncio, já tinha seus filhos
matriculados em Santos e exames médicos encaminhados.
Tô triste com a saída do Montillo? Sim. Tô um pouco decepcionado com
o Gilvan? Também. Mas, mesmo contrariado é preciso ter cabeça e saber ver acima
de tudo isso com um olhar ‘menos’ passional.
O Gilvan sabe onde o calo aperta. E, convenhamos, manter jogador mal
caráter, ingrato e insatisfeito no elenco seria bom só para exemplo
educacional, mas péssimo para o time e para os cofres. Então não vou lançar mil
pedras sobre o presidente por tê-lo visto pensar com a cabeça de administrador.
MESMO QUE eu pessoalmente não concorde com a situação.
Eu também acho legítima a manifestação da torcida que ameaçou
cancelar o seu SF, embora ache inútil e até errado. Fazer isso, mesmo em sinal
de protesto, não trará o Montillo de volta nem ajudará o clube a conseguir um
substituto.
Nós temos é que nos unir e dar a volta por cima. Cobrar um
substituto a altura do Montillo e, se possível, ajudar o time com o SF. E bola
para frente.
Muitos dizem ‘Obrigado e boa sorte Montillo’. Eu já penso diferente:
‘obrigado é o caramba, seu ingrato’.
Agradecer ao Montillo, que não conquistou nada aqui é como agradecer
político por ser honesto. Ele foi pago – e muito bem pago – para jogar bola e
dar o sangue. De títulos não ganhou NADA e só fez perder o respeito que eu
tinha por ele. Não desejo mal para o jogador, mas torcer pelo seu sucesso já é
um pouco demais para quem desrespeitou a nossa torcida.
Consideração era o mínimo que o argentino deveria ter mostrado para com a nossa torcida. Mas o Montillo preferiu descer do posto de ídolo para sair pela porta dos fundos da Toca, sem ao menos se despedir da torcida que tanto o apoiou e incentivou em campo.
Uma pena.
Sorte mesmo eu desejo ao Cruzeiro. E a nossa torcida.