Como profissional de marketing e criação publicitária é inevitável. Sempre reparo em tudo o que se refere a marcas e comunicação. Até mesmo quando o assunto é futebol.
O início de 2009 trouxe uma grata surpresa para mim (e para toda a torcida celeste). Na ocasião, o Cruzeiro e a Reebok lançavam aquela que – na minha opinião – era uma das camisas mais bonitas que o time já teve. Limpa, sem patrocínios, sem detalhes gritantes, dentro da tradição celeste.
Se a camisa do início de 2009 agradou a torcida, 2010 chega para deixar todos os amantes do Cruzeiro realmente apreensivos. O recente acordo entre Cruzeiro, o Banco BMG e a loja de varejo Ricardo Eletro transformaram o manto celeste em um verdadeiro “Abadá”, colorido, poluído e em desacordo com nossa tradição e longe da aprovação da torcida.
Poucas vezes uma camisa desagradou tanto à torcida celeste que, via internet, tem protestado veementemente contra a maneira que os novos patrocinadores aparecem na camisa.
As primeiras respostas enviadas pelo depto. de Marketing do Cruzeiro diziam que o clube tinha que respeitar a identidade de seus patrocinadores. A resposta desagradou ainda mais a torcida que intensificou os protestos. No Orkut – um famoso site de relacionamentos – a principal comunidade do Cruzeiro possui tópicos que já ultrapassam 600 postagens em desagravo aos novos patrocinadores.
A crescente revolta e manifestação da torcida parece ter chegado aos ouvidos da directoria do Cruzeiro que, agora, responde aos e-mails com uma resposta padrão mais bem elaborada, dizendo que está trabalhando para convencer os novos parceiros a estamparem suas marcas em branco na camisa celeste.
Você sabe o porque a nova camisa incomoda tanto?
Me lembro como se fosse hoje. Ao ver a tradicional camisa do Santos (branca, como Pelé consagrou) ser “destruida” por uma marca gigante da STI no meio do peito, pensei: “Ainda bem que no Cruzeiro isso não acontece”.
Meses depois, o Coritiba acertou patrocínio com o próprio banco BMG, e novamente eu pensei: “Ainda bem que o Cruzeiro não permita que os patrocinadores desgracem nossa camisa com logos berrantes como este”.
Hoje pago minha língua, pois vejo os dois elementos que mais aniquilam as camisas de clubes, juntos, na camisa do Cruzeiro:
• Um logo extremamente grande, que se impõe ao escudo e cores do clube.
• Logos de patrocinadores aplicados com cores que não condizem com a tradição e história dos clubes que escolheram.
No caso do Cruzeiro o caso é ainda mais grave, uma vez que o azul celeste “vibra” na mesma intensidade do laranja do banco BMG, causando um incomodo visual quando olhamos a camisa.
Um pouco de teoria de cores.
Ao ingressarmos em cursos de design, publicidade e atres, aprendemos um pouco sobre teoria de cores. Como trabalhar com cores complementares e análogas.
Assim como o branco encontra o seu oposto no preto, o vermelho tem o verde como cor contrária, assim como o azul e o laranja se opõem. Conforme você une estas duas cores opostas em um layout, se estas cores tiverem a mesma intensidade de brilho (se forem parecidas no brilho), o resultado é um incômodo visual bem forte.
O laranja BMG e o Azul do Cruzeiro vibram de forma bem parecida. Por isso o logo parece ainda mais feio do que realmente é na camisa de jogo principal do clube.
Reparem que no unifirme de treino, onde o azul é mais escuro (ou seja, vira de forma diferente do laranja BMG) o logo do patrocinador já não incomoda tanto.
justamente por este motivo, as grandes empresas em seus manuais de identidade desenvolvem logotipos com diferentes aplicabilidade. Em outras palavras, para este caso em específico, o BGM deveria possuir e aplicar o logo branco (negativo) na camisa do Cruzeiro.
Detalhe. No site oficial do Cruzeiro, o logo já aparece aplicado nesta vesão. Ou seja, literalmente não exitiria motivos para não modificar o logo no uniforme 1 também.
Clubes que passaram por problemas semelhantes e tomaram uma atitude.
Muitos clubes passaram e passam por situações parecidas com esta que o Cruzeiro vive hoje. Veja alguns exemplos.
Corinthians / Medial (2008)
Em 2008, a Medial Saúde (empresa possui o logo oficial na cor verde, a mesma do Palmeiras) decidiu patrocinar o Corinthians. No entanto, o clube paulista só permitiu que a Medial estampasse a marca em preto na camisa do clube.
Interncional / Banrisul (Atual)
A marca da Banrisul é azul. No entanto na camisa do Inter ela entra em vermelho, mesmo no uniforme branco.
Palmeiras / Suvinil (2008)
A torcida do Palmeiras ficou revoltada com a Suvinil espampando a sua marca tradicional na camisa do Palemiras. Nas primeiras camisas, a empresa de tintas aplicou o logo com as 3 barras horizontais na camisa do clube, o que desagradou muito aos torcedores. Através de uma campanha forte, a torcida conseguiu adaptar o logo da empresa na camisa verde.
E estes são apenas 3 exemplos dentre tantos outros. Até mesmo o Atlético-MG teve força o suficiente para estampar a marca da Fiat em Preto na camisa quando a marca era formada pela tradicional sigla FIAT dentro de quadrados azuis, no final dos anos 90.
Um dos mais louváveis exemplos de respeito a camisa (e porque não dizer, jogada de marketing) foi dado pelo Banco Hipotecario Nacional, ao patrocinar o racing da Argentina. Como relatado na matéria do site “universidade do Futebol”, a instituição financeira decidiu comprar o espaço para mantê-lo limpo. Segundo o director do banco, a intenção era devolver a camisa do clube para a torcida.
Providências já.
Proteger a imagem dos patrocinadores é importante, mas resguardar a imagem do Cruzeiro é ainda mais prioritário.
O Cruzeiro é conhecido pela sua história, tradição e conquistas. O símbolo que sintetiza tudo isso é a nossa camisa. Ou seja, o manto celeste faz parte da marca do clube e precisa ser preservada.
As cores de um clube, assim como sua camisa, tem de ser respeitadas pelos patrocinadores e cabe ao clube exigir isso dos interessados em estampar suas marcas na camisa do Cruzeiro.
No final dos anos 90, o Cruzeiro substituiu as estrelas soltas pelo escudo a pedido da Hicks Muse. Para isso, chegou a “modificar” a pesquisa que inqueria a torcida sobre a preferência entre estrelas X escudo, tudo para atender aos patrocinadores.
A história ensina. espero que a directoria tenha aprendido a lição.
Particularmente, prefiro confiar no departamento de marketing do Cruzeiro. Tenho para mim que eles são profissionais sérios e dedicados a fazer o que for melhor para o clube. Projetos como a Confraria Celeste mostram que o clube esta no caminho certo. Só não podemos jogar para traz tudo o que conquistamos, nossa história e nossa identidade.
Manter as marcas como estão hoje é pior para o clube, para a torcida e para os patrocinadores, que passam a ganhar o “ódio” da torcida, uma espécie de “anti-marketing”
Pesquisas feitas na internet (Orkut e Blogs sobre o Cruzeiro) mostram que 88% da torcida desaprovou a disposição das novas marcas. O mesmo percentual não pretende comprar os novos uniformes de 2010 se as marcas continuarem assim.
Cabe agora ao Cruzeiro mostrar que respeita nossas tradições e nossas cores. Pois se o respeito a isso não partir do próprio clube, estaremos definitivamente classificados como “time médio”. Afinal os grandes, como vimos acima, já mostraram que nada é mais importante que a sua história.
E agora, Cruzeiro… como queremos ser vistos?
Edu estou contigo, Quando vi o prospecto da camisa 2010 não tive dúvida….comprei a do ano passado.
Mano,
Reproduza seu post no
http://www.portaldocruzeirense.com.br
na discussão específica sobre os símbolos
do Cruzeiro e o que estão fazendo com eles.